Cáspita!

Sexta-feira, dia que já começa bem pelo único e exclusivo motivo de ser o último dia da semana. Me sento na cadeira, Seu Antenor envolve a capa para iniciar o corte, Lance na mão, já buscando a forma mais cômica de tirar sarro do São Paulino descontente que se despedia de Seu Antenor.

–        Cáspita! – sussurra o dono da Barbearia.

Não tinha entendido nada até avistar adentrando a Barbearia o capeta em forma de criança; Marcos, há 1 ano ele freqüenta a Barbearia. Para a tristeza dos cabelos brancos do velho lobo do mar. O anti-cristo é um autêntico garotoleiteA, sempre vestindo as roupas da última coleção para brincar, tênis da moda, vídeo-game na mão, esquece tudo por onde passa e tem uma babá que mais parece um anjo da guarda.

No exato momento em que o garoto passou pela vitrine, a expressão de Seu Antenor começou a dar indícios de que algo ruim estava por vir, já começa dando uma geral, tirando tudo o que poderia se tornar uma arma para o anticristo.

Os pais de Marcos, trabalham grande parte do dia, normalmente de final de semana viajam com amigos, raramente passam algum tempo com o garoto. Resultado disso tudo é um garoto sem limites e uma baba nova a cada 2 meses.

O capeta corre pela Barbearia, grita, esperneia, chora, derruba objetos no chão, sempre tentando ser o centro das atenções, atenção esta que seus pais infelizmente não dão e fica o vazio e a carência que se tornam indisciplina.

Engraçado que vendo esta cena, me despertou um sentimento muito peculiar, tinha vontade de dar umas boas palmadas no garoto, mas por outro lado, sentia pena pois era somente um garoto que tinha pais ausentes que compensavam com os bens materiais e mimos diversos.

54% dos brasileiros, segundo o Datafolha, são contra a proibição das palmadas, não vejo problema em pais, no calor da discussão que acabam por dar umas palmadas com fins educativos, penalizando o pimpolho por algo que ele, o educador, julga estar errado e não funcionou com a penalização verbal, considerando aqui que educar é introduzir a criança ao mundo do convívio civilizado. Esta palmada dada por um pai que ama o filho, dói muitas vezes mais no pai do que na criança, porque dói dentro da alma.

Tenho sorte de nunca ter sofrido nenhum tipo violência doméstica durante minha vida. Mas pensando em quem sofre ou sofreu espancamentos, abusos e não tem meios de recorrer a alguma autoridade e de fazer justiça e isto é um problema que me leva a repensar e lembrar de que infelizmente pertenço a minoria, num Brasil onde vemos crueldades que não temos palavras para explicar como o ser humano pode ser tão cruel com seu semelhante, tenho de concordar com esta lei, direcionada à grande maioria da população brasileira, por mais controverso que isto possa parecer. Difícil é pensar como as autoridades irão lidar com isso em meio a tanta corrupção, quem ai nunca ouviu um caso de suborno numa blitz da lei seca?

Pensando friamente, queremos promover a paz e criticamos a guerra, será que uma punição corporal não pode ser substituída pelo dialogo e castigo?

Sobre Vitor

27 anos, apenasmaisumhomemLatinoAmericano.
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4 respostas para Cáspita!

  1. Géssica disse:

    O fato é que as palmadas, como vcs retrataram a semana toda, não causam traumas nem problemas para crianças que têm famílias estruturadas e pais que ensinam muito mais que batem…
    Como é que o governo que está aprovando a lei vai fiscalizar o interior de casas onde os pais têm filhos além dos que podem criar, onde crianças são usadas como forma de garantir o sustento da família e onde a palmada é sim a única e melhor forma de “educar” uma criança?
    Aprovada ou não, para mim, não vai mudar nada….
    Só mais uma lei para “inglês ver” e mostrar ao mundo nossa preocupação com as criancinhas…

    Bjs meninos…

  2. Luiz Ferraz disse:

    Detalhe para o “autêntico garotoleiteA” , sensacional.

    é uma análise fria, muito boa. Discordo na história do diálogo com a molecada, tem dia que não rola só ficar no papo. E o sentimento de querer dar umas boas palmadas no Marcos? Mas sua defesa da lei vale a pena ser mais discutida mesmo.

    • Vitor disse:

      Valeu Luiz! Isso é lógico pensando friamente, porque quando inserido no contexto somos movidos pelo emocional…

      Bom final de semana!

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