A Lei do Bom Senso

Bom senso.

É só isso que falta para essa lei. E para quem fez essa lei. Parece pouco, mas devia ser a base de qualquer projeto de lei. O bom senso do cotidiano das pessoas. Ta certo, existem pais descontrolados, que acham que vão educar os filhos simplesmente na surra. Ta certo que muitas pessoas não tem controle sobre o filho, e se desesperam por causa disso – vide esses reality shows quando uma babá ajuda um casal a reeducar seus filhos, com várias “dicas”, com várias “sacadinhas”. Parece que educar uma criança precisa disso, fugindo da naturalidade de ser pai. Parece que é como um cachorro: fez a coisa certa, ganha biscoito. Fez coisa errada, da uma borrifada de água no focinho para aprender a lição.

Mas para mim parece uma falta de auto-crítica do próprio estilo de vida do brasileiro. Eu não sou pai – mas sou filho – e sei que quando eu fiz coisa errada, meus pais me repreenderam. Não me lembro de apanhar dos meus pais, mas lembro de muitas ameaças. Lembro que desenhei uma cidade inteira de canetinha no lavabo da minha casa e lembro muito do meu pai com a cinta na mão. Não lembro de ter apanhado, mas lembro que nunca mais fiz aquilo. Fiquei morrendo de medo de nunca mais poder ver meus amigos, de não poder jogar futebol, de ter que ficar sozinho para sempre, de ter que comer sempre salada verde, de ficar de castigo. Depois ganhei um caderno de desenhar gigantesco para um moleque de 7 anos e um jogo de carandache, aqueles lápis colorido – inclusive o lápis branco é que segurava a tampa do estojo. Lembro de quebrar vaso em casa e colocar a culpa no cachorro. Minha bola sumiu por um tempo depois disso. Nunca mais joguei bola na sala. Só no quarto. E depois de guardar o abajur para não quebrar.

Não sei, parece que as pessoas tem uma ânsia de querer resolver tudo burocraticamente, que o mais certo é viver com tudo dando certo para todos, achando que o “preto no branco” ou a super-nanny irá resolver nossos problemas e todos viverão felizes para sempre. Perfeito. E depois, o que vamos resolver? Parece que tudo o que foge de um certo padrão, o famoso politicamente correto, traz algum ruído na vida e precisa ser resolvido. Perguntas estúpidas para respostas inúteis. Por que será que a grama do vizinho é sempre mais verde? Se essa lei passar é capaz de votarem uma lei que proíbe as crianças de brincarem depois das 20hs, afinal de manhã tem escola! E o menino vai perguntar “e os jogos de quarta que passa na tv, não vou poder mais ver?”.O pai vai responder “não meu filho, se não eu vou ser preso e ainda vou pagar multa.”. Lamentável. Enfim, temos que repensar o que queremos fazer da vida, como queremos viver, o que nos satisfaz e o que precisamos no dia a dia. Uma lei sobre hábitos familiares não vai mudar em nada a educação dos filhos. E muito menos punir abusos de pais. Ouvi no CQC alguém falando que “se a lei ja existisse, os vizinhos do casal Nardoni teriam chamado a polícia”. Como assim? Tem gente fora da realidade. A fantástica e holllywoodiana cobertura da mídia sobre esse caso levou a esse achismo da população em geral, achando que devemos nos unir e combater o abuso infantil. “Eu acho que os Nardoni são culpados e não educaram os filhos da maneira correta.” Jura que você acha isso? As pessoas estão discutindo a educação no país como se estivessem discutindo um jogo de futebol.

Vamos parar de inventar leis e tentar colocar em prática as leis que ja existem. Chega de “achismos” e de “se fulano isso, se ciclano aquilo, eu acho assado”.  Como diz um amigo meu, “quem acha é o Google, você vai viver sua vida.”. Vou encaminhar uma lei para o congresso sobre o Bom Senso. Tem até nome para vender e ganhar a mídia. “A lei do Bom Senso será votada em plenário”. Bom senso sobre as atitudes, bom senso sobre a cidadania, bom senso para a educação, saúde, religião e sobre as próprias leis. Francamente.

Até o Tim Maia queria “atingir o bom senso”. Sim, o cara mais escrachado e politicamente incorreto fez uma música sobre isso, na época que ele era adepto do Racional. Até o  Tim Maia pensava nisso, um gênio da música, que morreu aos 50 e poucos anos sem nunca ter ido ao médico. E que fazia um triatlo básico diariamente. Enfim, lembrei dele por causa da música, que fala de uma fase da vida dele, que não teve tanto bom senso assim, mas ja era um começo. Pelo menos o Tim Maia viveu a vida do jeito que ele queria. O bom senso dele era ter nenhum bom senso. Tanto que a fase racional durou pouquíssimo tempo, e ficou muito tempo esquecida. O que vale é a suingueira do som dele. Vejam o clipe:


Sobre Luiz Ferraz

27 anos, cineasta, sambista, são-paulino doente e bom de garfo.
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3 respostas para A Lei do Bom Senso

  1. Bianca Corona disse:

    Muito bom Luizão! Eu voto na Lei do Bom Senso! Não só de palmadas, mas de todas as relações!!! E Viva o Bom Senso!

  2. Guilherme disse:

    O politicamente correto está deixando o mundo mais chato. Bom senso é viver e deixar viver. E isso o Tim Maia fez como poucos!

  3. Luiz Ferraz disse:

    Bom senso para o Seu Antenor é o “corte tradicional”, sem muitas voltas, mas de acordo com cada redemoinho de cada cabelo.

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