MÚSICA PROSTITUIDA

Esse texto foi enviado por um grande frequentador da Barbearia. Breno Barlach!

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Acordo assustado, pensando que perdi a hora. Olho ao redor e a escuridão me acalma. Ainda é madrugada. Mas não consigo voltar a dormir, passei o dia inteiro ouvindo o último disco do Iron Maiden e uma das músicas insiste em não sair da cabeça. Enquanto tento voltar a dormir, uma idéia surge. Uma espécie de desafio a mim mesmo. Nos próximos dias, escutar todos os discos do Iron Maiden em seqüência. Tempo não falta, ouvindo um disco a caminho do trabalho e outro na volta, seriam 7 dias.

Sim, sou fanático por uma banda. Já fui mais radical, mas quando os hormônios baixaram – depois dos 16 isso costuma acontecer, fique esperto se não tiver ocorrido com você ainda – eu me acalmei. Mas a banda ainda é minha grande paixão musical. Espero ansiosamente pelos discos novos há mais de 10 anos, para voltar a ter aquela sensação única de ouvir uma música de minha banda preferida pela primeira vez. Talvez pelo meu passado mais revoltado, ou quem sabe devido à fama dos fãs fanáticos (desculpem o pleonasmo), mas já fui muito criticado por ser apaixonado por uma banda. “Ah, você gosta de tudo o que eles fazem! Se eles gravarem pagode, você ainda vai aplaudir!”. Ingênuos. Bandas preferidas, times de futebol (e algumas mulheres) não nos traem assim tão facilmente. Sim, eu gosto de tudo o que eles gravam, mas apenas porque tudo o que eles gravam é bom. E é esse o ponto que eu queria chegar com essa longa introdução. Eu tenho paixão por uma banda. Ouço um disco novo e sinto como se já conhecesse aquelas músicas. Eu respeito pessoas assim como eu. O cara que ama Bob Marley. A menina apaixonada por tudo já gravado por John Lennon. Meu pai e seu amor incondicional aos Rolling Stones. Ou a paixão de uma amiga minha pelo Chico Buarque.

E, do mesmo modo, não compreendo o que seria viver sem essa paixão pela música. Por algumas músicas. Porque quem diz gostar de todas, não ama nenhuma. Já fui acusado de ridículo, por gostar tanto de um grupo de metal, que, como foi dito aí embaixo, usa calças coladas, tem cabelo comprido e canta fino. Nunca fui de responder, mas sempre penso, ridículo é ouvir uma música no rádio hoje, gostar, dormir e não se lembrar dela amanhã. É uma pena que essas pessoas, críticas da paixão pela música (ressalto: qualquer música), nunca saberão a sensação de ouvir uma canção pela primeira vez sabendo que aquela será sem dúvida uma de suas canções favoritas. As músicas, para elas, são passageiras. São como mulheres promíscuas. São paixões momentâneas, curtas. Isso para mim não basta. Para mim, não há nada como aquilo que senti quando o estádio inteiro acompanhava as guitarras com um “ooOOooooOO” em Fear of the Dark. Assim como não há nada como olhar para a mulher por quem se está apaixonado. Aquela que sabemos não ser mais uma. Aquela com quem vamos dormir à noite e ainda vamos querer saber o nome de manhã. Devoção, meus amigos, pode ser algo bom. Se o que queremos não se concretiza, sofremos mais. Mas somos muito mais felizes por cada vez que o objeto de nossa devoção cumpre com o que esperávamos. Seja o retorno do olhar daquela garota. Ou uma combinação óbvia de três acordes bem tocada.

Além de radical, fanático, entre outros, também já fui chamado de romântico. E infelizmente, ouvir “você é muito romântico” hoje em dia, seja em relação às mulheres, à música ou até ao futebol, deixou de ser um dos maiores elogios.

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2 respostas para MÚSICA PROSTITUIDA

  1. biancacorona disse:

    Sem medo de parecer cafona e antiquada acho romantismo uma qualidade sim e devoção, crença e entrega ainda mais fortes e poderosos!

  2. Célia disse:

    Há coisas perdidas que deixaram a humanidade menos humana…
    Fidelidade, romantismo e devoção são algumas dessas coisas.
    Felizes os que ainda são capazes de desfrutar esses prazeres…

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